segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011


Mário Viana explica Cheiro de Céu

O Parlapablog entrevistou o dramaturgo Mário Viana, que tem seu texto inédito Cheiro de Céu levado ao palco pelo grupo paulistano Teatrófilos. A montagem estreia no Espaço Parlapatões no próximo dia 26 de fevereiro. A temporada ocorre aos sábado, 21h, e domingos, às 20h. Confira a entrevista com esse dramaturgo dono de uma das vozes mais afiadas da dramaturgia brasileira.


(Foto de Marcelo Spatafora/Arquivo Pessoal)

A peça Cheiro de Céu se passa em um mundo mítico, com direito a Rei e Rainha. Qual a importância da alegoria para se discutir a realidade?

A alegoria tem a ver com a ideia inspiradora da peça. Há uns três ou quatro anos, passei um mês em Portugal, de férias, e visitei muitos museus e igrejas. Sou fã de arte medieval e reparei na enorme quantidade de cenas da anunciação que foram pintadas. A semente começou aí. Vim matutando a história, comecei a escrever sobre uma aldeia sem tempo definido... Mas puxando, é claro, os laços para os dias de hoje. Lembro que parei de escrever a peça na metade, porque foi quando estourou o caso do senador Renan Calheiros e sua filha com uma jornalista... Enfim, a realidade se aproximou demais da ficção e fiquei meio ressabiado de ser acusado de chupar a trama. Na verdade, eles é que tinham chupado a minha ideia...

O que a personagem Angelina simboliza neste mundo imaginado?

Angelina é um mistério até pra mim. Não sei como o diretor – Norival Rizzo, o Inenarrável – vai resolver a situação. Ela é meio boba? É sonsa? Simboliza o povo e pronto? Acho que eu tenho mais questões do que o público...

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“Eu tento escrever dramaticamente,
mas quando vejo,
está saindo piada”

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O anjo, no espetáculo, é quem vai persuadir a pobre Angelina. Como você enxerga o papel da religião hoje?

Hoje e sempre, a religião – especialmente a católica, que faz do sofrimento e a dor o caminho para o Paraíso – serve de anteparo para as pessoas. É como uma válvula, uma esperança de que as coisas melhorem. O problema é quem joga nas costas do padre, do pastor ou do pai de santo as decisões de sua própria vida.

Por que você escolheu a comédia para refletir a sociedade contemporânea?

Eu tento escrever dramaticamente, mas quando vejo, está saindo piada. Tenho dramas no cardápio, claro, mas ainda gosto mais de escrever comédia – até porque a reação do público é imediata. O medo é fazer comédia a favor do status quo. Acho que a comédia ajuda a ser mais irreverente e cínico com o mundinho que nos cerca.

Por que o nome Cheiro de Céu?

O título original era A Anunciação, mas eu mesmo achei pouco atraente. Podiam confundir com peça religiosa. Cheiro de Céu nasceu por conta do perfume que Angelina sente quando se encontra com o anjo, o que prova que nem todo anjo cheira bem.

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