terça-feira, 16 de agosto de 2011


Espetáculo motorizado

Autobahn, em cartaz no Espaço Parlapatões todas as quintas e sextas-feiras, às 21h, é um espetáculo que você não pode perder. Divertido e ácido, como boa parte dos textos de Neil Labute, a montagem tem direção de Soledad Yunge e conta com um elenco formado por atores tarimbados na cena teatral paulistana.

Para a diretora, o grande desafio foi colocar todos os esforços na construção de um espetáculo onde “a palavra tem que ser ação física”, já que os personagens estão o tempo todo sentados em bancos de carros.

Confira a entrevista completa que o Parlapablog realizou com Soledad Yunge e agende-se para não perder a curta temporada de Autobahn.


O que o público paulistano pode esperar da montagem inédita dos textos de Neil Labute, já conhecido por Baque, Restos e A Gorda?

O público pode esperar um espetáculo ácido e divertido que discute temas contemporâneos e propõe uma reflexão sobre a vida nas grandes cidades.

O espetáculo apresenta seis textos curtos ambientados dentro de carros. Qual é a reflexão que as histórias provocam em uma sociedade abarrotada por automóveis?

Neil Labute usa o carro como uma metáfora da vida. As estradas alemãs, autobahns, que dão nome à peça, não têm limite de velocidade.
A vida humana é limitada, a morte, como em um acidente de carro, chegará a todos. O que acontece na estrada é o que chamamos de vida. A peça traz seis retratos de momentos da vida de dois personagens dentro de carros. As vezes o carro está em movimento, outras estacionado. Se passamos, como ele diz na peça, 1/8 de nossas vidas dentro de carros, o que fazemos dentro deles revela algo sobre nós quando estamos fora?

Como você analisa o riso que o espetáculo provoca?

O riso que o espetáculo provoca é um riso de reconhecimento, identificação e negação. A platéia ri de momentos que já viveu ou de experiências que jamais espera passar, mas que são verossímeis. O carro é parte da nossa vida privada e pública. Mesmo que eu não possua um veículo, numa cidade como a nossa, não tenho como ficar alheio a sua presença. O carro invade nosso cotidiano de uma maneira muito intensa. Invade nossos sentidos, com seus sons, cheiros e presença. Invade os sonhos das pessoas com a promessa de status, liberdade e velocidade. Quando um simples objeto está carregado de tantos significados, não tem como não se transformar em um excelente alvo de humor. Um humor crítico, ácido e compartilhado.

O que motivou a montagem do espetáculo?

Acho que Autobahn confronta o público com situações e diálogos cruéis de nossa contemporaneidade e nos faz refletir sobre nossa integridade, ética e humanidade. Ele nos joga diante de uma encruzilhada onde enxergamos certa decadência das relações, instituições e valores. Não podemos ficar parados diante da realidade que nos incomoda. Quando algo me incomoda eu tenho vontade de escancarar isso e poder dividir para lançar perguntas, questionar nossas atitudes, buscar um encontro com a plateia para colocar uma lente de aumento em certos assuntos. Eu queria poder discutir as questões que Autobahn levanta com o público de hoje.
Além disso, foi um desafio para mim como diretora conduzir um espetáculo em que os atores estão fisicamente limitados. Sentados num banco de carro, tivemos que colocar todos os esforços na construção de um espetáculo onde a palavra tem que ser ação física. Lapidar o texto com muita precisão e sutileza. Gosto muito do trabalho com os atores. Este texto propiciou esse exercício intensamente. Aliado ao desejo de achar um bom texto para vários atores, estava o desafio da encenação e de como chegar a um resultado visual e sonoro que traduzisse cada uma das seis peças. São seis historias muito diferentes, que pedem climas distintos. Fiquei muito satisfeita com o resultado. Felizmente, tive a parceria do Edson Kumasaka, da Mirella Brandi e do Fabio Mueptmo que fizeram um belo trabalho.

Como foi trabalhar com atores tarimbados da cena teatral paulistana?

Foi desafiador ter um elenco tão talentoso como companheiros de viagem nessa estrada. O resultado final do trabalho se deve a enorme contribuição de cada um. A dedicação e disponibilidade deles para este projeto me deu a segurança necessária para conduzir o trabalho. Autobahn é essencialmente um exercício de interpretação e os atores se lançaram a este desafio com muita coragem e suor. Por serem seis peças curtas independentes, meu trabalho foi como ensaiar seis montagens ao mesmo tempo. Foi uma experiência muito marcante para mim e aprendi muitíssimo com cada uma das seis peças e seis elencos.


Autobahn
Quintas e Sextas, às 21h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

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