terça-feira, 22 de março de 2011


Ralph Maizza fala sobre Os Inadequados

O Parlapablog conversou com Ralph Maizza, diretor da companhia Teatro da Curva, que estreia o espetáculo Os Inadequados na próxima sexta-feira, 25 de março, no Espaço Parlapatões. A temporada acontece às sextas-feiras, sempre à meia-noite. Confira a entrevista.

De que forma o espetáculo é uma resposta ao fato ocorrido em 2010, quando os integrantes do grupo foram barrados pela imigração inglesa?

Não se trata de uma resposta, mas, sim, de um desabafo. O grupo precisava expurgar o sentimento de impotência, tristeza e raiva. A melhor forma de fazer isto é com o nosso trabalho. O espetáculo é bem humorado, com um humor ácido, mas fala também de algo muito sério que acontece desde sempre no mundo que é a xenofobia e o abuso de poder. Mas Os Inadequados é uma fábula em um contexto completamente diferente.

Qual é o universo retrato pelo dramaturgo John Sandlers que o grupo identifica-se?

O grupo identificou-se pelo humor decadente que John Sandlers exprime nesta comédia trágica. Suas cenas contêm diálogos absurdos e seus personagens são corroídos pelo próprio ego e pelas regras de um mundo perfeito. As personagens são consumidas pelo mesmo preconceito que expressam. É um texto bem diferente de tudo o que realizamos nos últimos anos. É uma experiência nova para nós, mas com muitos elementos que estão presentes em todos os nossos espetáculos. Quem conhece um pouco do trabalho do grupo irá perceber.

Como são as personagens que frequentam os luxuosos chás, festas e jantares retratados no espetáculo? O que elas significam?

Não importa se estas personagens são ricas ou pobres, bonitas ou feias. O que importa é o estado de alienação em que elas se encontram diante dos mundos e das diferentes culturas que elas desconhecem. É preciso enxergar além do próprio nariz, como diria John Sandlers. Porém, mais importante ainda são os outros personagens que são inseridos nestas festas e jantares, e que ‘babam ovo’ por tudo. É do imperialismo americano e Europeu que falamos. É do racismo e preconceito que a América Central e a América do Sul sofrem em relação aos Estados Unidos e Europa. É do brasileiro democrático, colocando panos quentes em relação aos maus tratos dos imigrantes de outros países. É também o preconceito que o próprio Brasil tem com os Africanos, quando eles chegam por aqui. Os personagens que frequentam chás, são qualquer um de nós. Alienação e preconceito não têm status, pátria, profissão nem situação financeira definida.

A arte, ao refletir a realidade, é capaz de transformá-la?

Não sei, mas se uma determinada cena, ou um diálogo mexer e despertar algo em alguém que está na platéia, já vale a pena. Atores são contadores de histórias. O que isso puder proporcionar de bom, já é lucro, mesmo que sejam sessenta minutos de pura diversão.

O grupo pretende apresente o espetáculo na Inglaterra? Se sim, como você acredita que será esta volta?

Se recebermos algum convite, voltamos para a Inglaterra sim. Seria muito legal fazer o espetáculo por lá. Não temos mágoa dos ingleses. Muito pelo contrário, fomos muito apoiados por grupos e artistas ingleses. O buraco é mais embaixo e vem de séculos atrás.


Os Inadequados
Sextas, meia-noite
Ingressos: R$30,00 (inteira) e R$15,00 (meia)

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