segunda-feira, 18 de maio de 2009

Reflexões
Possolo escreve sobre humor na tevê

No último sábado, na Ilustrada (Folha de São Paulo), saiu uma análise do parlapatão Hugo Possolo sobre a segunda série de DVDs do programa Toma Lá, Da Cá. Para quem não leu, ou quer reler e comentar, segue aqui a reflexão sobre os produtos de televisão voltados ao humor e a indústria do entretenimento:

Folha de S. Paulo – Ilustrada – 16/05/2009
Falta apuro e acabamento no humor de Toma Lá Dá Cá

O Brasil tem uma indústria do entretenimento competitiva? Temos um mercado? Ou o que nos chegam são subprodutos de um monopólio? Embatuco essas perguntas para assistir, com distorcidos olhos de palhaço, à série "Toma Lá Dá Cá", lançada em DVD pela Globo Marcas.
Em sólida parceria com Maria Carmem Barbosa, o autor e comediante Miguel Falabella retoma, com habilidade, todos os recursos da comédia popular, em que o roteiro é pretexto para que os comediantes criem as mais abusadas maneiras de arrancar gargalhadas.
Trash como um Zé do Caixão e ingênuo como um Didi Mocó, seu humor não prima pelo acabamento cênico. A força de seu Caco Antibes, de "Sai de Baixo", fez uma marolinha midiática que tomou o personagem pelo ator. Ficou carimbado de golpista. Ao contrário de Caco, Falabella é generoso, agrega um elenco talentoso.
Infelizmente, esse elenco deixa o paletó na cadeira e fica esperando a hora de surfar sobre sua já reconhecida imagem. Exceções à regra, Arlete Salles aposta fundo na composição de sua fogosa Copélia e se destaca, hilária. Alessandra Maestrini cria um tipo cômico único, que já se firmou no imaginário brasileiro. Pena que são pouco exploradas pelos roteiristas.
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“Essa renovada família trapo sofre da falta de desenho cênico, por uma direção desleixada.”
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"Toma Lá Dá Cá", sem tramas, se apoia no humor dos comentários. Na boca do autor são pérolas, porém na dos mais jovens saem quadrados. Os casais trocados, por ausência de história, deixam de protagonizar e abrem espaço para o desfile de tipos engraçados, mas ineficientes para sustentar uma comédia de situação.
Na falta de situações, a série extrapola sua própria fábula a cada roteiro. Nos apartamentos, inventa contextos artificiais, pretextos de novos comentários, mas que não se encaixam no conflito das cenas. Essa renovada família trapo sofre da falta de desenho cênico, por uma direção desleixada.
A claque contratada subtrai a espontaneidade das improvisações. Tudo resvala no talento que gera expectativa e acaba na falta de acabamento. Lembrando que esse é o comentário de um comediante não tão famoso, sujeito às mesmas críticas, mas que gostaria de ver o humor tratado com apuro.
Isso não significa que não seja divertido. Popular, deve ser visto sem preconceitos. Livre-se deles e divirta-se.
A boa e velha Vênus Platinada, no tempo em que era chamada assim, inventou o "padrão Globo de qualidade", que hoje está mais para padrão de apelo a audiência global. Seus executivos deveriam rever os valores do passado, quando o investimento em obras bem acabadas resultou na construção da maior emissora do país.
A tentação do resultado econômico imediato é grande, ainda mais em tempos de crise e pirataria generalizada.

Hugo Possolo especial para Ilustrada (Folha de S. Paulo)

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