terça-feira, 23 de agosto de 2011


Debate sobre a cobertura de Teatro na Folha de São Paulo

No último domingo, 21 de agosto, a ombudsman da Folha de S. Paulo, Suzana Singer, escreveu sobre a tendência da cobertura na área teatral realizada pelo caderno Ilustrada nos últimos tempos.

Hugo Possolo enviou mensagem à Singer concordando com a abordagem feita, mas discordando de uma frase que cita a praça Roosevelt. Por sugestão da própria Singer a opinião de Possolo, que autorizou edição da mensagem, foi publicada no Painel do Leitor.

Leia e comente. Dê também a sua opinião sobre o assunto.

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OMBUDSMAN (SUZANA SINGER ombudsman@uol.com.br @folha_ombudsman)

VÁ AO TEATRO, MAS NÃO ME CHAME

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Com textos herméticos, a Ilustrada escreve para os "iniciados" e não reflete a variedade de peças em SP
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"SUAS FALAS FLUEM como jorros assonantes de significados múltiplos condensados."

""Otro", criação do Coletivo Improviso, sob a direção de Enrique Diaz e Cristina Moura, tensiona fronteiras entre territórios estáveis da dimensão espetacular para encontrar novos limites."

"Num mundo cada vez mais "pirandelliano", em que milhares de verdades habitam uma mesma realidade, a peça decreta o respeito à liberdade absoluta da incerteza."

Se você não entendeu as frases acima, não se acanhe. Eu também não entendi. Tiradas de reportagens e críticas da Ilustrada, elas são exemplos do rumo que a cobertura teatral tomou no caderno.

A preocupação em ser compreensível não existe. Os textos, alguns inexpugnáveis, são feitos para os que trabalham na área ou para "eruditos". O leitor, coitado, termina sem entender o que é a peça e sem condição de decidir se vai ao teatro ou se corre para o cinema.

Mesmo quando se trata simplesmente de apresentar uma estreia, não de criticá-la, muitas vezes o jornalista se esquece de resumir a trama, citar os atores, dar a duração do espetáculo. Há uma preocupação excessiva com a cenografia, a luz e com referências a outros dramaturgos, que, em geral, fazem parte do repertório de quase ninguém.

Na quinta-feira passada, por exemplo, o texto principal da página de teatro da Ilustrada era sobre "O Contrato". Foram 75 linhas de texto, que começava com aspas de outra peça ("O particular acabou"), trazia um histórico do encenador, mas quase nada do enredo.
Para entender algo, o melhor eram as cinco linhas do Guia: "Dentro de um escritório, um gerente submete sua funcionária a provações. Ele inferniza a vida dela, que resiste para não perder seu bom salário".

Além de reformar os textos, é preciso repensar a pauta, que deve incluir mais musicais, os espetáculos "blockbuster", que ficam anos em cartaz, e descobrir os novos talentos do "stand-up". Não significa aplaudir o que faz sucesso, apenas sair um pouco da praça Roosevelt.
É importante mexer nessa cobertura, porque o teatro em São Paulo nunca foi tão variado: de "Mamma Mia!" à "Macumba Antropófaga" de Zé Celso, há alternativas de sobra nas 140 peças em cartaz semanalmente. Hoje, o teatro é para todos, mas as críticas, para poucos.
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PAINEL DO LEITOR (23 de agosto de 2011)



Crítica de teatro

A ombudsman fez uma análise oportuna e direta sobre a abordagem que a Folha vem dando ao teatro ("Vá ao teatro, mas não me chame", Poder, 21/8). Realmente, a falta de clareza, principalmente da crítica, é prejudicial ao leitor e acredito que afaste público dos teatros. Porém critico o uso da expressão "sair um pouco da praça Roosevelt".

Primeiro, a expressão parte do mesmo princípio criticado pela própria ombudsman, pois é feita para iniciados e, por essa razão, pode soar preconceituosa. Não fica claro ao leitor o que significa a praça Roosevelt em sua visão, deixando em aberto a possibilidade de que a ombudsman não acredita no potencial artístico de um local que abriga diversos teatros.

Segundo, parece-me que os textos publicados na Folha e que estão citados no artigo não se referem a peças que estão em cartaz nos teatros da praça Roosevelt, mas, quando usa a expressão "sair um pouco", sugere que tudo o que foi citado antes é referente à praça, o que pode limitar o alcance de sua importante análise.

HUGO POSSOLO, fundador do grupo Parlapatões (São Paulo, SP)

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