sexta-feira, 22 de julho de 2011


Entrevista com a Cia. Rústica

Para a segunda quinzena de julho, o Espaço Parlapatões preparou uma programação especial para você aproveitar: A Cia. Rústica, de Porto Alegre, realiza uma curta temporada em São Paulo. O grupo apresenta a montagem Clube do Fracasso e Cabaret da Gloria.

Acompanhe abaixo a entrevista que o Parlapablog realizou com Patrícia Fagundes, diretora e dramaturga da companhia.


Como foi para o grupo trabalhar com um material real extraído da própria equipe no espetáculo Clube do Fracasso?

Foi uma experiência diferente, já que o último projeto da Cia Rústica levou à cena textos de Shakespeare. Por outro lado, era um desejo que já estava latente há algum tempo, a ideia de compor dramaturgia a partir da memória, de vivências pessoais, de fragmentos biográficos da equipe. Como estratégia criativa, esteve presente no processo de ensaios de A Megera Domada, montagem anterior à Clube do Fracasso. De qualquer forma, o teatro sempre atravessa esses territórios de fronteira entre o real, o imaginário, o pessoal, o universal, acontece entre corpos em um espaço-tempo compartilhado.

Esse novo projeto direcionou as pesquisas da companhia para qual ponto da dramaturgia Brasileira?

Não sei se é possível estabelecer um ponto preciso na dramaturgia brasileira, ou mesmo pensar uma dramaturgia brasileira distinta do que está acontecendo no resto do mundo em tempos de internet, informação veloz, globalização avassaladora. O teatro hoje é extremamente flexível a uma imensa multiplicidade de formas, tudo é possível na cena, e tem muita coisa vibrante acontecendo nos palcos do mundo. Através de estratégias diversas, o teatro está pulsando de uma forma especialmente potente em nossa era tecnológica como um espaço possível de encontro. Se existe um ponto de convergência na dramaturgia brasileira para nossa investigação, penso que seria essa zona onde tudo é possível, um tipo de escrita que poderia ser definida como "posdramática" - ainda que eu use esse termo, proposto no final dos anos 90 na Alemanha, com várias restrições. Mas pode ser aplicado a um tipo de dramaturgia que dispensa personagens fictícios, uma trama com início, meio e fim, narrativa linear, etc.

De que forma o fracasso pode ser positivo em nossas vidas?

O fracasso é o que nos faz, o erro é o que nos constitui; o discurso da vitoria e da superioridade já está bastante desacreditado na trama da criação e do pensamento contemporâneos. A peça propõe um brinde à nossa imperfeição, com polifônicas variações sobre o tema. Tem um texto que eu gosto bastante: "Houve um tempo em que tínhamos medo do ridículo. Tentávamos parecer inteligentes, bonitos, fortes e geniais, queríamos ser príncipes e princesas. Mas somos todos bastante ridículos, em vários aspectos. E talvez seja justamente no ridículo onde resida nossa salvação. Em nossa fragilidade, em nossa imperfeição, em nossa deformidade". O fracasso nos irmana.

Quais são as atrações do Cabaret da Glória e quem irá participar?

O Cabaré da Gloria é o mais recente vaudeville cênico-musical da Cia Rústica, um show de variedades que brinca com outros lados da moeda do Fracasso: nesse caso, a Gloria. Participarão os atores da Cia - Heinz Limaverde, Lisandro Bellotto, Marina Mando, Priscilla Colombi, Francisco de los Santos - e vários convidados especiais: Cris Bastos, Sissi Venturini, Rafael Leidens, Elisa Volpatto. A referência do Cabaret é um vetor muito importante nas investigações da Cia, como herança artística do século XX e modelo cênico polifônico e anárquico que inspira nosso fragmentado tempo. É uma referência tanto de linguagem cênica em diferentes montagens como na realização de Cabarés propriamente ditos, efêmeros e mutantes como a cena mesma. Experimentamos a multiplicidade, o fragmento, a música ao vivo, o gozo do acontecimento, o corpo, o carnaval, o imaginario de coisas que não existem mais.

O que é o Desvios em Trânsito que a companhia apresentará na Av. Paulista?

Uma intervenção urbana, que realizamos pela primeira vez em Porto Alegre no ano passado, em várias regiões do centro. O projeto foi contemplado com o Prêmio Artes Cênicas na Rua 2009 (Funarte) e propõe ações performativas que se integram na pulsação do movimento da cidade, corpos estranhos, desvios que podem gerar transformações de percepção, traçando linhas de conexão entre o ordinário e o extraordinário. A cada intervenção, durante noventa minutos, os atores se deslocam em um território determinado desenvolvendo ações simultâneas, sempre em trânsito, sem fixar um espaço e estabelecer uma relação permanente ator-espectador. A dinâmica de movimento segue o ritmo da cidade: velocidade e pausa.


Clube do Fracasso
Dias 23, 24, 30 e 31 de julho
Sábados, às 21h, e domingo, às 20h
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)


Cabaret da Gloria
Dias 23 e 30 de julho, às 23h59
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)

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