terça-feira, 11 de maio de 2010
Fala sério!
Na edição deste domingo da Ilustrada (Folha de S.Paulo), Hugo Possolo escreveu sobre o livro Bussunda: A Vida do Casseta. A obra é uma biografia do humorista, escrita por Guilherme Fiúza, que já havia experimentado o estilo ao escrever Meu Nome Não é Johnny.
Aqui postamos a matéria na íntegra.
Sem "forçar a barra", biografia expõe sentidos do humor feito pelo grupo
HUGO POSSOLO
ESPECIAL PARA A FOLHA
O problema de ler uma biografia é que você sabe que o personagem principal morre no fim. Não é bem o caso de "Bussunda: A Vida do Casseta", escrita por Guilherme Fiuza.
Sem ceder ao pieguismo, expõe a vivacidade da revolução de humor promovida pelos Cassetas. Livre de cronologia careta, contaminado pelo humor, insere o leitor no planeta "cassetesco". Não força a barra nem imita estilos.
E olha que seria fácil fraquejar ante a criatividade dos sete rapazes de Liverpool. Vemos, mais que uma reavaliação da trajetória do grupo, o diagnóstico de uma geração.Com aguda sensibilidade, aborda desde as origens familiares até os casamentos, as mulheres e os filhos. Fala sério! Os Cassetas são família!
São os bastidores de uma banda que não era bem de rock e não comia ninguém. Sem escamotear dados, paixões, negociações e cagadas dos Cassetas.
Fica claro também que, sem a Globo, talvez a anarquia do grupo sucumbiria às necessidades de sobrevivência. E mais, que seria a Globo quem apostaria na ousadia, tanto pelas necessidades do momento que atravessava, quanto pelo papel relevante de feiticeiros como Boni e malucos como Daniel Filho.
O óbvio segredo do "Casseta & Planeta, Urgente!" é que eles não são atores, são autores que apostam tudo em suas piadas.
Das mais sofisticadas à mais grosseiras, sempre mantendo a coerência.
"Zen-bussundismo"
O truque mais habilidoso dos Cassetas é que eles não imitam, satirizam. Deglutem falsas celebridades, ironizam a programação global, travestem-se de políticos e jogadores de futebol para além da caricatura de voz ou da gestual. Aliás, podem ser imitações toscas, pois o que criticam é o significado das atitudes de suas vítimas. Os Cassetas não desistiram nem diante da perda de sua figura mais popular. E, se desistirem, a televisão brasileira ficará um pouco mais burra.
Claro que Bussunda, por mais incrível que possa parecer, é a parte central de sua própria biografia. Aparece coerente, por vezes falso ausente, sem se definir o líder que era, em seu estilo "zen-bussundista", finalizando tudo com sacadas certeiras.
Seu deboche não era raivoso até porque isso daria trabalho. Bussunda prezava o ócio. Contraditoriamente, trabalhou muito. Ensinaram-lhe a ser o melhor e ele se deixara ser o pior. Por fim, tornou-se amado até por quem parodiava.
Ao ler sobre Bussunda, você pode até se perguntar que exemplo vai tirar daí. E Fiuza, sem afirmar, leva você a acreditar em todos os sentidos que o humor tem a oferecer.
Notícia velha urgente: Bussunda não morreu. Como gostava mesmo era de vagabundear, foi apenas descansar cedo demais.
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