quinta-feira, 17 de setembro de 2009


Homenzinhos azuis, um pouquinho
do livro Palhaço-Bomba

O livro Palhaço-Bomba, de Hugo Possolo, lançado sexta passada trouxe um de seus textos mais recentes, publicado na Folha de S. Paulo (Ilustrada), sobre o espetáculo do Blue Man Group no Brasil. Para dar um gostinho, aqui vai o artigo na íntegra:


Folha de S. Paulo – Ilustrada – 04/09/2009
Trupe ironiza a banalidade consumista em show esperto
Blue Man Group se apresenta em SP até o próximo dia 13 no Credicard Hall

Talvez a grande homenageada do último Festival de Cinema de Gramado, a megastar Xuxa, esteja certa. Duendes existem, mas, querida loira, não são verdes. São azuis. Pelo menos, sempre foi assim no mundo dos Smurfs. E, agora, com o show do Blue Man Group, devo dizer: eu também acredito em homenzinhos azuis. Basta pegar o telefone e discar um 0800 qualquer e vão te vender um excelente pacote de como se tornar um megastar. E mais! Um megastar do rock!

Meu conselho: compre. Ou vá assistir à demonstração desse produto da cultura de massas. O espetáculo do Blue Man Group é pura gozação sobre os shows massificantes, uma ironia pra ver e ouvir. Tiram sarro do comportamento de roqueiros, ao mesmo tempo em que tocam excelente rock'n" roll. Ridicularizam as elucubrações das artes plásticas e primam em soluções visuais. Superpalhaços não deixam de se autoironizar, de brincar com o público e revelar os truques medíocres que fizeram a fama de muita gente.

Na pré-estreia, minutos antes do show, dava pra ver o desespero dos fotógrafos atrás de alguém mais ou menos chique e famoso, saído de algum reality show fake. Durante o espetáculo, me bateu a conclusão de quanto essa badalação é provinciana, pois, no palco, o Blue Man zomba, o tempo todo, do mundo das celebridades -se é que elas merecem um mundo próprio. As divertidas legendas -e são muitas- foram traduzidas com um ritmo integrado ao espetáculo, incluindo os textos dentro das animações, sem trair o humor e a poesia das letras. Detonam sarcasticamente o pieguismo, mas vão fundo em "I Feel Love" (sucesso de Donna Summer), dando outro significado à canção pop, tratando a solidão urbana como um biscoito fino, pronto à degustação da massa.

A comunicação com o público é constante e fluente. Pena que o Credicard Hall tenha tanto eco que a música tenha de ser equalizada em volume baixo, pouco envolvente. A plateia, toda sentada, também não ajuda muito a satirizar o comportamento do público de megashow. Além do talento cômico e musical, o Blue Man usa a tecnologia para valorizar a atuação cênica. E, muito espertos, jogam para a torcida, apelando para a nossa paixão pelo futebol e até em citar Roberto Carlos. Aposto que é porque o Rei gosta de azul. Será que o Blue Man também tem TOC?

Bozo
Fiquei fã do palhacinho do banjo, Floppie, a quem o Blue Man faz uma justa homenagem, resgatando o gesto e a atitude heavy metal. Aliás, Floppie vem da mesma horda de Ronald McDonald e Bozo, mas creio que não se drogou tanto como os colegas. E se você quer saber o porquê, vá ver o show.

Sim, porque gripe suína à parte, muita gente pode não ir, achando que já viu tudo. Não se deixe confundir com a forte campanha publicitária da TIM, que tem o Blue Man como garotos-propaganda, e ache que eles estão limitados a essa fronteira. Por mais que nesses 19 anos de atuação, saídos do circuito off-Broadway para o circuito internacional e com várias versões espalhadas pelo mundo, o Blue Man Group seja um meganegócio, em cena os homenzinhos azuis não fazem concessões e tripudiam sobre a banalidade consumista.


Quem estiver interessado no livro, peça por e-mail: parlapatoes@uol.com.br (R$ 30,00 + despesas de correio)

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