sexta-feira, 28 de agosto de 2009




Outra matéria sobre os Parlapatões

Com a estréia de O Papa e A Bruxa saíram muitas matérias de jornal sobre o espetáculo e o grupo. Destacamos aqui a matéria publicada no Caderno Metrópole, do Estado de S. Paulo, que retrata um pouco de nossa história. Foi um texto que repercutiu muito, pois várias pessoas nos telefonaram e mandaram e-mails nos parabenizando por nossos 18 anos de atividades.Leia abaixo:

Humor maior que 18 anos

Da rua para um movimentado espaço próprio, Parlapatões celebram a maturidade

Edison Veiga – O Estado de São Paulo – 23 de agosto

Para um palhaço, a maturidade não se traduz em cara séria. E é por isso que, antes mesmo de começar a entrevista com Hugo Possolo, de 47 anos, e Raul Barretto, de 50 – os dois mais antigos Parlapatões em atividade –, o repórter ouve o primeiro comentário engraçadinho. “Grava isso, porque mentira gravada é sempre melhor, né?”, provoca Hugo.

Para um palhaço, risos valem mais do que palmas. Hoje, osParlapatões, Patifes e Paspalhões são uma bem-sucedida empresa. A companhia emprega 40 pessoas – entre elenco, produção e administração –, desde 2006 mantém um espaço próprio na Praça Roosevelt – cuja aquisição deve ser completamente quitada dentro de dois anos – e é sócia do Circo Roda Brasil. Com 33 peças no currículo, o grupo teatral comemora a maturidade profissional fazendo uma reflexão, sem perder o deboche, de sua trajetória.

“Essa história de 18 anos é marketing para vocês falarem da gente”, ri Hugo. “Mas é claro que, com o tempo, vieram as conquistas, que são muito fortes, o que nos deixa triplamente mais responsáveis. Afinal, hoje, precisamos pensar como empresários, pensar que há pessoas empregadas aqui, que dependem disso para sobreviver.

Pessoas dedicando sua vida a um projeto completamente abstrato e efêmero: o teatro. ”Nem sempre foi assim. A ligação da trupe com São Paulo é telúrica, pé no chão, sapato no asfalto. No começo da carreira, nada de cortinas, palco ou bilheteria. “O grupo nasceu na Praça da República e no Parque do Ibirapuera, com apresentações de rua”, lembra. “Depois a gente passava o chapéu.” No início, Raul fazia participações especiais. Foi incorporado definitivamente à companhia, da qual faziam parte outros integrantes. Ambos são paulistanos. Paulistaníssimos. “Sou fissurado pela cidade. Tanto que acredito que a linha pontilhada na qual o mundo gira se chama Avenida Paulista”, afirma Hugo que, na verdade, nasceu em Vitória (ES). “Mas vim para cá com menos de 1 ano. Sou mais paulistano que muito paulistano.” Raul é filho legítimo da cidade. “Nasci na própria Avenida Paulista”, frisa. De personalidades distintas, os dois percorreram caminhos diferentes até se conhecerem, no Picadeiro Circo Escola, nos anos 80. Hugo era um menino quieto, bom aluno, tímido até. Queria ser dramaturgo. “Então, na adolescência, comecei a fazer teatro para me aproximar dessa gente. Tanto falaram que eu era engraçado que resolvi estudar para ser palhaço”, conta. “Mas, fora de cena, Deus me livre, até hoje acho que sou muito sério – se bem que ando mais avacalhadinho.” Paralelamente às aulas teatrais, se formou em Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, em 1981. Mais extrovertido, Raul era do tipo que aprontava todas em casa e na escola. “Sempre fui do fundão, aquele sujeito com carinha de bonzinho que sacaneava todo mundo”, define. “O palhaço é um sacana, né? Na sala de aula, eu atrapalhava e provocava as pessoas. Hoje continuo fazendo isso no teatro.” Começou a fazer cursos de teatro quando estava no 3º ano de Engenharia Civil, na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Graduou-se em 1982.“No dia da formatura, saí de smoking do (centro de convenções) Anhembi e fui direto para o Sesc Pompéia. Era minha estreia no teatro”, lembra. “Cheguei a exercer (a profissão de engenheiro). Trabalhei em um escritório grande. Todo dia, durante meio período, eu fiscalizava obras, media vão de janelinha um por um, via a cubagem de caminhão de pedra, caminhão de areia... Depois ia para o teatro.” De certo modo, a formação “exata”até hoje transparece nele. “É o nosso ‘Parlapadata’”, brinca Hugo. “Sim, guardo os números, estatísticas, informações do grupo, fluxo de público”, confirma Raul. E, como que para provar, diz que, por mês, o Espaço Parlapatões recebe cerca de 3,5 mil pessoas – em média, seis peças ficam simultaneamente em cartaz; o teatro tem capacidade para cem pessoas por espetáculo. Como não podia deixar de ser, esse jeitão rende piadas à dupla. Um exemplo é a conhecida história – repetida sempre aos amigos – de que eles jamais viajam em férias juntos. “Tem de ser, pelo menos, em Estados diferentes. O ideal é que sejam em continentes diferentes”, alfineta Hugo. “Uma vez estávamos em Florianópolis (SC) com um espetáculo. Houve um dia de folga e conhecemos 25 praias de lá. Em duas horas e meia”, lembra Raul. “Dia de folga com o Raul é um stress”, rebate Hugo. “O maior tempo que consegui ficar em uma praia foram seis minutos. Isso porque o carro atolou e a gente teve de empurrar.”

Viagens, aliás, são constantes na carreira dos Parlapatões. No total, o grupo passa de dois a três meses por ano fora da capital. Na última sexta-feira, por exemplo, se apresentaram, como convidados de honra, do II Festival de Teatro Infantil de Salto, no interior do Estado.

BAR CHEIO, CASA CHEIA

Metáfora da filosofia do grupo, o bar que funciona no mesmo endereço que o teatro costuma ficar bastante movimentado. “Às vezes, querem nos classificar de ‘botequeiros’ mas isso é um equívoco”, garante Hugo.

“O bar é ação política. Só fica cheio quando a peça é um sucesso. E ele só é vivo porque as pessoas vêm aqui para discutir arte, se encontrar com a arte.” De acordo com ele, hoje o bar responde por cerca de 30% do faturamento do espaço. O restante é resultado do teatro.

Mas a sacada é a interação com o público, antes, durante e depois das peças. “O artista é diálogo”, justifica. “Teatro não pode ser visto como cultura de massa, como a televisão, onde o artista é inatingível.” Televisão, aliás, é algo que não atrai a dupla. “Conseguimos criar uma estrutura de tal forma que, se o cara oferece muito pouco por uma novela, podemos falar: ‘não, eu ganho mais com o teatro’”, diz Hugo, lembrando que foram 18 anos de trabalho para alcançar essa estabilidade. “Já recebi convite para atuar em novela, mas é uma coisa muito chata, né?”, conta Raul, que chegou a fazer trabalhos para a TV Cultura “por puro prazer”. “A Rede Globo odeia teatro, então não há espaço para impor nossa agenda e conseguir conciliar. Só uma Maria Fernanda Cândido ou um (Antônio) Fagundes é que conseguem.”

Tanto um quanto outro são bem caseiros em se tratando de tempo livre. Raul é fanático por cinema, mas admite que, ultimamente, tem preferido curtir as folgas em sua casa, na Pompeia – onde vive com a mulher, a atriz Helena Cerello. “Fico tanto tempo fora que, quando estou livre, tenho quinhentas coisas para fazer em casa”, diz. “É prateleira para grudar, jardim para arrumar...”

Casado há 17 anos – sua mulher, Márcia Chiochetti, administra o bar do teatro –, Hugo também se refugia em casa, na Vila Maria, quando quer sossego. “Afinal, um grande sofá é a cara de São Paulo”, compara.








3 comentários:

Anônimo disse...

Tomei a liberdade de escrever uma crítica sobre a peça de vocês,

Abraços

Parlapatões disse...

Poxa, mande para nós uma cópia no divulgacao-parlapatoes@uol.com.br, quem sabe publicamos por aqui!
Abraço

Anônimo disse...

Recebeu a crítica? O que achou?