quinta-feira, 20 de agosto de 2009



Os figurinos de Telumi Hellen para O Papa e A Bruxa

Dando continuidade às entrevistas feitas com a equipe do espetáculo O Papa e a Bruxa, hoje publicamos nosso papo com a figurinista Telumi Hellen.

Parlapablog – Como surge a idéia no processo de criação dos figurinos?

Telumi – Primeiro eu leio o texto na íntegra. No caso de O Papa e a Bruxa, pude participar de três leituras. A partir daí, comecei a elaborar os figurinos e a desenhar. Por sorte, a linguagem que foi proposta no segundo ou terceiro desenho já foi o que o Hugo imaginava e o que eu desenvolvi no restante. Como é um tema sério, que fala do Vaticano e ao mesmo tempo de vícios, o modo de pensar foi que a temática não poderia vincular a nenhum tipo de preconceito de religião, de crenças e até mesmo de estilo.

Então, o próprio figurino do Vaticano é atemporal, o que nos permitiu fazer brincadeiras, como por exemplo, usar tênis junto aos hábitos. Fazendo a pesquisa, eu vi o calendário dos padres sensuais do Vaticano, acredite se quiser. Fui numa loja de padres e tinha batina pink, um sinal de que a universalidade também se encontra na religião. Nesse levantamento, fiz também uma busca da época medieval até os dias de hoje. O figurino desse espetáculo tenta transmitir isso, o hábito preto com colarinho branco, da época do renascimento, mas com um zíper, super atual.

Na verdade, uma proposta que era pra facilitar na mudança de troca de figurinos virou um conceito, utilizando o zíper o tênis, criando referências contemporâneas.

Parlapablog – Desse processo todo o que foi mais prazeroso e o que foi mais difícil?

Telumi – O prazer já começou pelo texto, pela leitura. É um texto muito inteligente, atingindo todos os níveis, porque contém informações que questionam o humano através da brincadeira e da provocação. Esse questionamento que o texto provoca é muito prazeroso, uma discussão que deveria ser mais ativa. Até num jeito mais simplista de se questionar, como é que um ser humano pode, por exemplo, se privar de um relacionamento? Esses questionamentos, a questão do vício e tudo mais, formam uma mistura que me permitiu usar de muitos elementos. Costumo brincar que não vivo em São Paulo à toa, eu adoro essa diversidade. Então esse texto foi muito prazeroso pra mim, porque instiga um assunto que eu gosto muito, o questionamento da diversidade, brincando com o tradicional e o moderno.

Quando ando pelas ruas percebo nas pessoas se um indivíduo é mais romântico, mais agressivo e vejo outros sinais que não estão apenas nas vestes, mas no comportamento, na postura, na forma da configuração física e em tudo mais onde busco essa inspiração.

A parte mais difícil fica no técnico, porque a agilidade e rapidez nas trocas de roupas, até mesmo nas brincadeiras mais ousadas do figurino, têm que ter uma leveza e praticidade ao mesmo tempo. Por exemplo, adereços de cabeça que os atores jogam pra cima, a peruca voando em cena e na hora que volta pra cabeça tem que estar ajeitada. As meninas que estão cuidando dos adereços estão quebrando a cabeça. Põe elástico aí não funciona. Arranja outro mecanismo! Ou seja, um estudo que tem que agir de acordo com o tempo cênico. Isso é um desafio muito grande para nós.

Parlapatões – Você sabe dizer quantos figurinos são utilizados?

Telumi – Foram de 38 a 40 figurinos. Mesmo a gente brincando bastante e utilizando recursos contemporâneos, o realismo é imprescindível para esse espetáculo, pois o rigor do Vaticano com as vestimentas e objetos tem que ser levado em consideração.

Parlapatões – E desse processo todo, quando seu trabalho termina de fato?

Telumi – Acho que só na estréia. E ainda assim pode surgir uma coisinha ou outra. O refinamento e aprimoramento acontecem bem perto da estréia. Eu sempre digo que o aprimoramento é de dez dias, no mínimo. Vou testando durante os ensaios, onde eu preciso estar o tempo todo, percebendo como todos esses figurinos e adereços estão funcionando, o movimento dos tecidos, a praticidade etc.

Conforme o espetáculo vai evoluindo eu tenho que estar junto, porque se perceber que a roupa está atravancando, não posso deixar de corrigir no dia seguinte. Costumo dizer que nesses últimos dez dias a gente vira um corpo único.

Parlapatões – A organização de todos os figurinos, com nome e numa ordem de seqüência das cenas, também faz parte do seu trabalho?

Telumi – Como foi muito rápido pra todo mundo e não só pra mim, dividi a arara em três módulos. O Primeiro Ato - do Vaticano; o Segundo Ato - da casa da bruxa e o Terceiro Ato - quando volta pro Vaticano. Foi assim desde o começo. Já desenhei essa estrutura e quando eu mostrei pra eles nessa divisão, ficou tudo mais fácil. Isso é uma parte muito importante também nesse processo. A organização de figurinos e adereços é essencial para uma peça com essa complexidade. Gostei muito de todo processo.



Costureiras preparam os figurinos sob a orientação de Telumi

2 comentários:

Fabek disse...

A Telumi?

-Ela é ninja!

Anônimo disse...

animal a entrevista!
mto legal o post, parabéns!

www.turrar.blogspot.com